Ele - Decidi matar-me! Não, não tentem dissuadir-me que não vale a pena. É tarde demais para terem compreensão pelo meu caso. fui sempre um incompreendido. Agora já nem tento justificar-me. Nem sequer por este gesto. Este meu ultimo gesto...................Há dias tive uma incontrolável vontade de me ver livre de todos os trastes inúteis que tenho acumulado ao longo da vida, e comecei a pôr coisas no lixo: caixas, jornais, trapos, cacos, papeis...sei lá. No dia seguinte.......No dia seguinte tive um desejo incontrolável de reaver tudo. Apetecia-me vasculhar no lixo, encontrar coisas às quais me pudesse prender. Queria acorrentar-me ao meu passado. Queria morrer para todos os tempos e juntar-me para sempre às minhas memórias!
Raios partam a senhora do lixo, que levou a minha vida, como se de lixo se tratasse! Agora, só me resta matar-me
Ela - Talvez seja tarde demais para reaveres o teu passado, e quem sabe, talvez não tenhas forças para recordar-te de nada sem o que deitaste fora. Mas ouve-te! Achas que fazes sentido?
No teu presente estado, no teu presente juizo, pensaste bem no que estás a dizer?
Ele - Neste momento, nada faz sentido... Nunca nada fez sentido! E agora que já nada me resta para os outros se lembrarem de mim, só me resta partir, e levar todas as lágrimas, minhas e dos outros. Serei, como sempre fui, uma memoria da qual ninguem se lembra....
Ela - (num tom repreensivo) Que cobardia! Agarra-te ao chão, agarra-te ás paredes, agarra-te a esse caixote do lixo vazio! Agarra-te à etiqueta ou à tua devoção ao mundano! Se quiseres, chora, corta os pulsos e não durmas. Mas a morte é a saída para os cobardes e para os velhos. E tu não és nenhum dos dois! Portanto para lá com a birrinha! Anda, vamos embora. Temos que estar no restaurante às nove e meia, e ainda temos de ir pôr gasolina. Mexe-te!
Ele - Mas eu não quero ir! Diz-lhes que eu não pude vir, porque odeio-me e quero morrer!
Ela - Não vou dizer isso; eles sabem que tu, às vezes, pareces que és estupido! Isto é um jantar muito importante que está marcado à duas semanas, e não te vais cortar de maneira nenhuma! Suicidas-te depois.
Ele - (Suspira irritado, levanta-se do chão, veste o casaco e sai com ela) nem sei porque tento falar contigo! Raramente me ouves, e nunca me entendes!
Ela - (dando-lhe um beijo apaixonado) Eu tambem te amo...
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