"Tu és o consolo para os meus pulmões respirarem,
a unica esperança para os meus olhos abrirem,
produzes a melodia longínqua que me tira da solidão e me põe de novo à escuta.
És a teoria e verdade absoluta que a minha alma defende,
em que o meu cerebro pensa e os meus braços protejem."
Encontrei isto num velho caderno meu onde costumava desenhar e escrever pensamentos obscuros ou tortuosos na minha pré-adolescencia, que foi um óptima exemplo de uma próspera e bem-sucedida "idade do Armário". E sobre ela sei pouco mais. Apenas que me achava crescido e pronto para tudo o que o mundo me atira-se ao toutiço, era dred e tinha companhias pouco aconselhaveis, era gordo e com um ar de puto ainda mais "putesco" que me tornava muito pouco atraente, e que em geral era mesmo mas mesmo muito menos feliz do que sou agora.
Corre o ano de 2007, o verão acabou recentemente. Com 16 aninhos um corpo muito mais escultural, uma cabeça muito mais aberta e epicurista, e uma selectividade nas companhias rigorosa e saudavel vou vivendo aquele que até agora foi o melhor e mais repleto de sensações e experiencias de todos os anos da minha vida. O "sweet-sixteen" não é um mito apenas, meus amigos.
Acredito, hoje em dia, que o meu maior tesouro é e sempre será a soma das minhas sabedorias e experiencias, a partir das quais consigo construir na cabeça uma vida que levava com muito gosto. Já sei trabalhar, já sei como me divertir imenso sem me matar, e já sei que o segredo para fazer coisas chatas é arranjando maneira de me divertir com elas. Sim, se não soubesse que isto são verdades distorcidas nas quais gostava de acreditar apenas, diria tambem que me acho crescido e pronto para tudo o que o mundo me atira-se ao toutiço.
Depois, um momento de nostalgia. Encontrei um velho caderno com desenhos perturbantes e textos depressivos. Prontamente fiquei muito contente comigo próprio por ter deixado que o juizo e as hormonas unissem forças para me por na linha e me tirassem daquela vida tão pouco saudável. Mas depois, entre os vestigios da minha "maradice", encontrei o excerto acima apresentado e fiquei muito comovido.
Não me lembro quando escrevi isto, nem que idade tinha, ou se estava feliz ou infeliz, ou a quem dirigi estas palavras tão fofas. Nem sei, pensando bem, se me estava a dirigir-me a alguem em particular. Mas a razão pela qual fiquei tão comovido foi a linha de pensamento em que eu entrei, logo após um breve traço psicológico de quem se tratava (eu, na "pobre-idade"). Que se este estaferminho basofe e desnaturado escreveu palavras tão sentidas, quer fosse uma dedicatória a alguem ou apenas uma manifestação do amor que podia e queria dar sem saber a quem, Tambem eu devo ter enterrado aqui para o meio tamanhas lamechices sem se manifestarem.
O excerto tambem me fez pensar noutra coisa: que apesar de não me lembrar e de achar que há pouco em comum entre nós, consigo ver esta criança como eu noutro tempo. Mais infeliz, bem sei, e muito menos sábio. Mas impulsivo, curioso e com alguma poesia pairando-lhe na alma. Raio do puto!!
E aqui estou eu! Corre o ano de 2007 e tenho 16 aninhos. Estou prestes a começar um ano novo numa escola nova em que todos me disseram que ia me espetar ao comprido e me lixar com um F maiusculo. E não quero isso! Prefiro a vida extremamente cansativa mas pouco stressante que levei ate agora; a vida que eu sei viver. E, quem sabe se daqui a uns anos, um Gusty mai´velho não vai ler isto com a mesma distante memória do que eu tenho do pequeno Gusty da pobre-idade. Portanto, ó tu, isto é para ti...
Se eu sei que tu sabes que eu sou ignorante e que nada sei então sei tanto e sou tão sábio como tu!! Barda-xanxa!!!
Gusty
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