Eu sou caloiro... e a minha existência por si só é uma afronta a Deus e aos anjinhos. O Senhor quando me criou, foi como que para demonstrar uma síntese de tudo o que não gostaria de ver na sua criação. O caloiro, na sua irritante teimosia em existir, é como uma caixa de Pandora em formato vivo (com a diferença que nem Pandora nem ninguém, por mais curioso que fosse, gostaria sequer de tocar num caloiro com um pau, quanto mais abri-lo)
Eu sou caloiro.Sou acéfalo, esponjoso e feio. Arrasto-me pateticamente pelos belos corredores do ISCSP, onde os humanos, com a sua infinita humanidade, toleram relutantemente a minha presença, pedindo apenas que fique calado e que não os olhe com os meus mal-feitos e estúpidos olhos de caloiro... e na minha opinião já toleram muito... Mas por outro lado, eu sou caloiro, e a minha opinião é nada mais que um zurro sem melodia...
Eu sou caloiro. O meu cheiro é afrontoso, a minha postura é a de uma lesma idosa, e o meu cérebro é um pântano de estupidez com apenas dois neurónios. Os meus dois neurónios servem, apenas e exclusivamente, para agarrar as minhas longas e ridículas orelhas de caloiro, para que estas não me caiam. Eu não penso, e logo também não falo; E ainda bem, porque se pensasse ou falasse só sairia merda, e mereceria levar um enxerto de porrada, ou ser obrigado a encher até morrer, ou posto á frente de um carro (nada que eu não mereça já, portanto...). Considero-me já muito sortudo pelo meu amórfico e pouco atraente corpo não ser esmagado como um verme pelo peso da minha caloirice e asquerosa condição.
Eu sou caloiro. Sou um reles e miserável bicho que se revelou desde logo enfuriantemente inútil como besta de carga ou como meio de locomoção. Nem para o talho sirvo porque ninguém no seu perfeito juízo comer-me-ia... A única contribuição que eu posso dar ao mundo é servir como escravo dos meus doutores, ser achincalhado e vituperiado pelos mesmos, ser tratado abaixo de cu-de-cobra em nome da sua diversão. Para mim, andar na magnífica sombra de um doutor é por si só a maior glória que eu podia ambicionar.
Eu sou caloiro. O único ser que merece mais desprezo q eu é, também ele, um caloiro. Eu posso vir a morrer de torpeza e fealdade apenas, pois sou muito fraco, e não aguento ser assim tão torpe e feio como sou. A minha capacidade académica é uma cruel piada. A minha higiene pessoal é uma improvável fantasia. Os meus modos à mesa são de fugir...Será que alguma vez vou ser mais que um execrável caloiro? No meio deste pensamento, fumo sai-me pela escalpe, sangue pelo nariz, e uma das minhas orelhas cai com o esforço...
Eu sou caloiro. Vários cientistas (entre eles Darwin, Freud e Einstein) tentaram estudar o caloiro. Como evoluiu esta triste espécie? Se não pensa nem sente, o que é que há naquele pantanal acefalino? Como e que um ser com tão fraco corpo e mente pode sequer existir? Todos os seus estudos foram inconclusivos, pois não obstante as suas brilhantes mentes científicas, nenhum deles conseguiu se submeter ao calvário de dar assim tanta atenção a tão insuportável criatura como é o caloiro
......................................................................................(um ano depois)........................................................
Eu sou doutor, e vocês, caloiros, estão todos fodidos...
2 Comments:
Não falas, não pensas, mas já estás a escrever muito para um reles caloiro...
"(um ano depois)........................................................
Eu sou doutor, e vocês, caloiros, estão todos fodidos..." isto é tão tão verdadeee :O
mesmo assim, debaixo dessa tua capa...sim, és um amor :)
Post a Comment
<< Home